segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Auto-descompreensão

Queria ser apenas terra,
porque momentos de compreensão são raros, independentemente de quem aconteça (nós mesmos, irmãos, amigos, amores...); raros como um eclipse, e de momentos tão curtos e longínquos; tão inverossímeis como o olhar sincero de quem só conhece a mentira.
Ser apenas terra,
profícua.
Ninguém pode verdadeiramente compreender ninguém, e a terra, ela não precisa ser compreendida, ela simplesmente existe e ponto. Não precisa de ninguém, nem de si mesma, pois é tudo, e ao mesmo tempo.
Compreender,
que (o) nada precisa de explicação.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sonhos Realizados

Enfim o desejo do prazer despertava em seu corpo e em sua mente, simples e contido: um sonho. Estava agitada; como pude sonhar com algo que nunca vivi, que nunca senti? Cansada, sentia a ânsia, mas não se der amada, e sim, desejada, porque amor já recebera demais na vida e as vezes é um fardo pesado ser amado, receber tanto amor, sem poder retribuir. Era apenas o desejo de sentir prazer - qual a solução?
Ao final das contas, era uma mulher, de corpo bonito, com rosto sutil; nem bonita e nem feia. Era uma mulher. Tinha o direito de desfrutar de seu próprio corpo, mas não queria ser sozinha, não queria desfrutar sozinha. Queria um homem, alguém que a desejasse e só. Alguém devorando-a com os olhos. Existe alguém assim? se perguntava na própria ingenuidade. Não se pode simplesmente procurar um homem e dizer "eu te quero", as coisas não funcionam assim, não para ela. Para ela tudo sempre foi complexo e triste.
Seu desejo sempre será triste? Sempre no futuro do pretérito, no algo que nunca chegará?
E, um dia, na livraria vazia onde trabalhava, aprofunda-se um homem, talvez 40 anos, misterioso, alto, bonito... mesmo pra idade. Pergunta a ela sobre alguns livros, mas a menina não presta atenção - ele para e sorri:
- Desculpe moça, acho que você estava dormindo. Eu te acordei?
- Não... tudo bem... eu... eu... não deveria ter dormido - disse fingindo. O que deseja?
- Primeiro, preciso me apresentar, Fábio, e você?
- Ah... Sofia, Sônia, Lúcia, tanto faz... aqui ninguém presta muita atenção em mim.
A conversa continuava, tinha seus rumos próprios, falavam sem estarem ali, suaves. Ela perdia-se naquela dança, amar um homem tão mais velho? Era impossível, ele não poderia desejá-la. Deveria ter filhos, ser casado. Isso não! Mas o destino sorriu a ela dizendo " porque não?" é preciso experimentar,é preciso se acontecer.
O homem voltou outras vezes na loja e ao invés de comprar livros ficava conversando com Lúcia. Sem família alguma, todos mortos? E ela nas suas indagações: o que ele fazia ali? será que a desejava, ou amava? Eram tantos os olhares e os dias que se passavam só os aproximava.
Depois de 5 meses, ela ousou, menina de sempre roupas largas e pouco feminina, usou um vestido e até um decote, que belos seios fartos! "... menina, você é incrível, eu te amo e te quero tanto... eu, homem velho."
- Melhor não nos vermos mais, ele disse. Lúcia perdeu sua chance. Estava tão ao seu alcance o que queria e perdeu. Nunca mais o viu.
De súbito e desespero, saiu da loja: demissão. Andou desistindo-se entre as ruas da cidade. Chorou como alguém que perdeu para a morte... 20 anos, inócua, desperdiçada - ninguém mais a viu.
Mas o destino, este sempre nos sorri e diz "porque não?" Fábio rodava a cidade em busca de prazer, triste e sem ninguém, necessitava esquecer aquele amor impossível e fracassado. Pagar por um mulher não pareceu má idéia. Na parte velha da cidade, parou o carro, em frente a uma das moças, parecia a mais bela.
- Lúcia, é você? Perguntou assustado.