quinta-feira, 28 de junho de 2012

Concretude Gélida

Hospitais: parecem ser erguidos à título de afrontamento ao homem! Eles sempre estão lá, escancarando-nos a morte, esfregando-nos à sujeira de nossas próprias doenças. 
O Hospital é a concretude de um monstro!
As vísceras do concreto parecem ser feitas de tristeza e de cinzas..! Do arquiteto indiferente ao médico prepotente, todos se esquecem que quem sofre Ali é o Semelhante, não quando, por vezes, não somos nós mesmos. 
Brancos, cinzas, beges, marrons, verdes-vômito, a própria estrutura exala apatia, exala patologia! O amarelo só se vê no cabelo mal pintado da enfermeira; o vermelho é só cor sangue; o rosa, quem sabe, do bebê; e, o azul do céu, que insiste em perpetrar-se Aqui, pelas minusculas janelas de corredores longos e quartos angustiantes. 
E são tantos rostos, sérios, cheios de desgostos: melancolia, raiva, desespero, Este, sem questionamentos, é o antro dos desafortunados! As paredes gélidas comprimem-nos, todas em um ritmo decadencial de subvida, de a-vida (até a morte é melhor que isso!!).
Dada a precariedade - do serviço publico brasileiro, por preferência - o distraído poderá observar o bolor no canto esquerdo, a teia já esquecida pela aranha no direito, e a, quase necessária, infiltração no teto. Só penso em falar para a autoridade: " Quanta excelência, hein Vossa 'Celência" 
Talvez um trocadilho infame desse pudesse provocar um sorriso e afastar a miséria da dor. Mas rir aqui seria suicídio e eu, pobre escritor, seria um auxiliador, um criminoso. Porque rir, sorrir, demonstrar alegria Aqui é pecado! É crime! É reprovável! A senhora, a minha frente, diria: "Tão teve educação, não, meu filho? Respeite o sofrimento alheio"
Enfim, depois de tanta palidez, rachaduras, choros, gritos...
Não, não, ainda não é hora de ir embora. Obrigamo-nos a ir ao Hospital e este Monstro Patológico nos obriga a permanecer Nele, por uma perpetuidade de horas, e da maneira mais insólita: filas!!
Enfim, esperemos nas filhas...
Posto isto, meus caros saudáveis, se eu ousar (e conseguir) sair vivo da barriga deste Animal, contar-lhes-ei o resto de minha experiência. E, peço, encarecidamente, um lugar amplo, multicor, com Sol e muito alimento. Perto de mim, só quero a morte das folhas caídas no outono.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

No passo das horas...

Como pode o dia começar se nem mesmo amanheceu? Do escuro foi para o nublado, e da luz do sol, nem sequer um raio eu vi. E as pessoas andam apressadas com seus guarda-chuvas, mas onde está a chuva? Será a miopia que não me permite vê-la, ou ela anda escondendo-se de mim, aparecendo, apenas, no chão molhado e no meu cabelo e roupas umedecidos?
Em verdade, chego à conclusão: o dia, Hemera, resolveu pregar-me uma peça, absteve-se, paralisando a obra de Chronos às  seis horas da manhã de um dia de inverno, menos frio do que úmido. 
Porquê? Seriam motivo as minhas brigas diárias com este deus, não raras vezes, devastador?

Por fim, declaro, que o dia então comece, não mais pretendo atirar-me à uma luta fadada à perda. Não pretendo mais brigar com deuses, agora, apenas almejo a tranquilidade que me abre a porta. 

Assim, bastou-me piscar os olhos, e o relógio já me acusa às dezoito horas. Aqui, o tempo volta a voar, lentamente. Os carros passam, a chuva é vista e o céu escurece novamente. Agradeço enfim, por passar pela vida e percebê-la de coração aberto, uma vez que, nem mesmo a falta de sol,  será capaz de turvá-lo, e o seu, anda nublado? 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O homem sonhador vêm abrindo os gomos do Tempo, assim como fez o escritor moçambicano... e a chuva lhe mostra aquilo que nem o transcorrer dos dias é capaz de ignorar.