segunda-feira, 18 de junho de 2012

No passo das horas...

Como pode o dia começar se nem mesmo amanheceu? Do escuro foi para o nublado, e da luz do sol, nem sequer um raio eu vi. E as pessoas andam apressadas com seus guarda-chuvas, mas onde está a chuva? Será a miopia que não me permite vê-la, ou ela anda escondendo-se de mim, aparecendo, apenas, no chão molhado e no meu cabelo e roupas umedecidos?
Em verdade, chego à conclusão: o dia, Hemera, resolveu pregar-me uma peça, absteve-se, paralisando a obra de Chronos às  seis horas da manhã de um dia de inverno, menos frio do que úmido. 
Porquê? Seriam motivo as minhas brigas diárias com este deus, não raras vezes, devastador?

Por fim, declaro, que o dia então comece, não mais pretendo atirar-me à uma luta fadada à perda. Não pretendo mais brigar com deuses, agora, apenas almejo a tranquilidade que me abre a porta. 

Assim, bastou-me piscar os olhos, e o relógio já me acusa às dezoito horas. Aqui, o tempo volta a voar, lentamente. Os carros passam, a chuva é vista e o céu escurece novamente. Agradeço enfim, por passar pela vida e percebê-la de coração aberto, uma vez que, nem mesmo a falta de sol,  será capaz de turvá-lo, e o seu, anda nublado? 

Um comentário:

Anônimo disse...

Os dias vêm e vão. E todo passo passa em vão, nos vãos da vida.
Vou-me, preciso ir, estou quase atrasado nessa manhã de todos os dias. Correr atrás do relógio tentando alcançar alguma coisa que o tempo insiste em sonegar a mim.

Alguma coisa que não aconteceu, e não sei se Nix ou Hemera furtarão esse destino da caixa do Deus engolidor para me presentear (pretenso mortal, crê ser merecedor de uma dádiva divina...).

Pobre tempo egoísta, não vê que a compulsão por deixar a humanidade trancafiada em seu voraz apetite só lhe causa dor?

Pobre tempo idiota! Insiste em me colocar em labirintos tão conhecidos, e que sei que não têm saída.

Não grito mais por socorro. Já fui acudido. Porém, o tempo - senhor absoluto - volveu a me lançar no cubículo dos limites da mediocridade. E no dia a dia vou caminhando, me equilibrando na corda bamba da vida, vivendo enquanto deuses riem, enquanto batalhas perdidas surgem para que eu tente acreditar que o livre arbítrio é possível.

Determinismo dinâmico, paradoxal pânico põe-se a piscar para o rapaz que pairava pelas passagens tão pisadas daqueles corredores.

Ergo minha cabeça, sim, o dia está nublado, sim, a chuva molhou o mundo ao meu redor e eu não vi. Meu guarda-chuva, apesar de todo carinho que guarda pelas minhas roupas, nem sequer trabalhou.

Encho os pulmões de ar. Fecho as portas da vida na vã tentativa de impedir Kronos de levar tudo aquilo que nunca tive (porque sei que nada da vida se tem de verdade).

Não brigue com o Deus tirano, ele sofre tanto (não que ele não goste disso) para dar lições valiosas aos mortais. Apenas não dê bola para o ponteiro do relógio, nem para o hoje, nem para o ontem.

O amanhã será mais uma vez essa surpresa previsível. Mais um dia em que não se tem certeza de que tudo se repetirá.

Tempo, leve-me, leve os grãos de areia que compõem minha limitação, me rendo a ti. Ou então pare de uma vez de nublar o dia, pare logo de arrastar-me para trás.

LARGO MÃO DISSO! DESENCADEIO-ME DO TEMPO! NEM O VIRAR DA AMPULHETA ME TRANCARÁ!

Tornar-me-ei filho de Apolo para que o dia possa irradiar; a flecha possa seguir o curso reto até o alvo, o sonho possa arder. Assim, nem Kronos me atingirá.

Filho do arqueiro, iluminado por toda beleza presente do Monte Olimpo. E não se fale em formas, e não se fale em coisas consumíveis pelo tirano!

Que a luz da verdade apague todo esse labirinto temporal e que só se viva se for para sentir sinceramente. Isso nem o tempo levará. A verdade clarividente como o ferir de uma seta é tão concreta que não há de ser afastada por nada.

Que a sabedoria guie meus passos, que o divino me ilumine para que seja possível levar ao mundo um grão de esperança contra a tirania e a aspereza do insólito tempo.

Então, o sol surgiu sorridente como a brisa de primavera.

Saudações do Olimpo.