segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Quando Carlos era criança, ele gostava de gritar. 
Ninguém entendia o pequeno Carlos, o achavam retardado. 
Mas também.... 
Ninguém ouvia os sons que ele o tempo todo escutava. O som dos carros. Das buzinas. Dos acidentes... O som dos passos, das gargalhadas no corredor. Do giz extinguindo-se no quadro. O som de mil respirações juntas. Dos latidos dos cachorros da vizinhança... Da água, que faz som no chuveiro, na torneira, nas garrafas e nas chuvas. O som da mão coçando a cabeça e até das mastigadas durante o almoço. 
Só Carlos ouvia. Incessantemente, os sons que estamos acostumados a esquecer. 
E é por isso que Carlos gritava, ele queria a harmonia disso tudo. E também queria emitir sons, mas queria o som mais potente. Queria esquecer toda essa bagunça de sons. Então ele gritava. E gritava o mais alto que podia. 
Hoje Carlos é regente de orquestra. Com os ouvidos em harmonia, ele grita com as mãos!

(19 de outubro de 2013)