Quando Carlos era criança, ele gostava de gritar.
Ninguém entendia o pequeno Carlos, o achavam retardado.
Mas também....
Ninguém ouvia os sons que ele o tempo todo escutava. O som dos carros. Das buzinas. Dos acidentes... O som dos passos, das gargalhadas no corredor. Do giz extinguindo-se no quadro. O som de mil respirações juntas. Dos latidos dos cachorros da vizinhança... Da água, que faz som no chuveiro, na torneira, nas garrafas e nas chuvas. O som da mão coçando a cabeça e até das mastigadas durante o almoço.
Só Carlos ouvia. Incessantemente, os sons que estamos acostumados a esquecer.
E é por isso que Carlos gritava, ele queria a harmonia disso tudo. E também queria emitir sons, mas queria o som mais potente. Queria esquecer toda essa bagunça de sons. Então ele gritava. E gritava o mais alto que podia.
Hoje Carlos é regente de orquestra. Com os ouvidos em harmonia, ele grita com as mãos!
(19 de outubro de 2013)
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