Somos líquidos,
não como Bauman descreve
- mas o polonês tinha razão, muito senso.
Falo apenas
não temos substância
(estamos líquidos, então?)
Somos feitos de silêncio
e nossa matéria que é o nada,
grita seu próprio caos
em nossos recônditos.
E, por isso, nunca toquei sua alma
essa matéria líquida
foge
enquanto prolongo-me
escorre, se desvanece
muda.
E eu já não sei mais de ti.
Apenas ouço seus gritos
e não confio na razão
- matéria feita de concreto.
É firme, mas rasga a pele.
Com meu silêncio de palavras
vou desconfiando do futuro.
Com uma verborragia fantástica,
com imensos objetos para as palavras-coisas
vou fugindo desse presente
que é ser.
Atúrdita, enfim,
distante e muda, prolongo-me mais
e no passado
só enxergo, astigmaticamente,
o desalentamento da infância.
Estamos todos
nossos três atos
ao mesmo tempo.
{21.01.2017}
Nenhum comentário:
Postar um comentário