quarta-feira, 18 de abril de 2018

Amar despedidamente

Amo-te, assim, distante, pequenina
como se a despedida
fosse a primeira e a última
representante de uma ars aeterna
de amar.

E de tanto amar-te 
assim, longínqua
como uma Hilda perdida
como se te perdesse
sempre 
te encontro.

Nos jornais, nas estações, nos sorrisos e noutras bocas,
te encontro em todas as composições. 

Você não foi 
meu primeiro amor
mas é como se tivesse sido,
não será, tampouco, meu último amor
mas é como se sempre o fosse.

Despedida como essência de amar
e nela nos liberto e nela nos ato, e nela despedidamente te amarei.

{20 de março de 2018}

Amar-mulher

É... meu coração é drummondiano, mesmo que eu não seja tão gauche - sou mulher, sou o negro do mundo, sou reclinável -, mesmo que meu coração não seja tão vasto. Coração pequenino, mas tão profundo que não dá pé.
É que acredito: o amor nos salva, em silêncio. Tenho amor zeloso de mãe, de quem já tem os filhos crescidos. Acompanho com olhar distante as minhas queridas. Por dentro, aquela vontade de colocar no colo, como se assim pudesse protege-las das dores do mundo.
Se o olhar manso de Drummond pousasse no meu, entenderia que bicho-mulher ama obscuro. Ama em cima de uma corda florida, única divisão entre eu e nós. Entenderia eu não amar a humanidade, amor antropocêntrico, abstrato inexistente. É que quem ocupa meu coração já é um mundo inteiro.
Meu amor, que é mãe, irmã e amiga. Ele não ama com a cabeça - instrumento frágil -, ama sim é com as entranhas. Ama com as dores, com as perdas, com os defeitos. Sentimento que se exerce do lado avesso. Sem recusa e vem viseira.
 - Drummond, trata-se de um amor selvagem, de que sabe o poder de uma fogueira e a usa para exorcizar o mundo-homem, e as suas máquinas, e os seus falos, seus sortilégios, suas mortes e os seus barulhos. Desde sempre eu fui minhas queridas e tantas outras. São os nossos ombros que suportam o seu mundo. Drummond, você me entende?

{rascunho de junho de 2017}