No fundo da rua da minha casa,
que desce longe, numa quebrada,
mora um sujeito preto,
um sujeito louco.
Não se sabe como ele mora,
não se sabe se é drogado, viciado,
ou louco de vez e por hora.
Todo dia,
um pouco mais cedo um pouco mais tarde
ele sobe a rua.
Às vezes sereno, às vezes berrando qualquer diabrura.
Ele fala sozinho, ele fala pra lua,
tem o rosto fechado,
zangado.
Todo dia, no final do dia,
ele desce a rua.
Do mesmo jeito,
quase sempre zangado,
como quem desconhece alegria.
Mas, louco do jeito louco dele
que não se sabe o quanto é
ele representa o desejo ímpar, máximo, inenarrável,
de todo ser humano:
o de não ser invisível.
Basta vê-lo, vê-lo como um ser,
para além de um louco,
para além da sua pele.
Cumprimentá-lo, usar os olhos, ver...
Ele passa sereno,
sem xingamentos, sem diabruras,
sem zangar com ninguém.
Espectro ameno.
(março de 2021)
Ele passa sereno,
sem xingamentos, sem diabruras,
sem zangar com ninguém.
Espectro ameno.
(março de 2021)
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