domingo, 15 de janeiro de 2012

Tentando.

Um tiro. Um mísero tiro para acabar sentimentos. Mas a arma está longe, longe de quê?? Talvez de qualquer movimento. E ela está alí, sim, no armário, carregada com a última bala, sempre esperando o decisivo disparo. O disparo para a eternidade, para ser eternamente mais um sonho inacabado. Não é desespero, não é medo. É cansaço. E o 'cansaço fica na mesma' como adora lhe dizer Campos. E 'a mesma' corrói, como corroem a ingratidão e a velhice no Tempo.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Reveillon no submundo (?)

Só deu-se conta quando já estava na rua, com os fogos explodindo em seus olhos e ouvidos, apressadamente, antes da meia-noite. Nestor havia lhe roubado todo o seu miserável dinheiro, e a reivindicação lhe rendeu uma boa surra. Ingratidão. Enquanto ela lhe deixava rico ele aproveitou para roubar-lhe o soldi e a alma, bulindo seus seios com força. "Italiano cretino" - era o que pensava.
O fato era que sangrava, com a maquilagem borrada e os olhos roxos. Sua lingerie nova, toda rendada, agora encontrava-se rasgada, suas cicatrizes nas costas, de outras brigas, pareciam brilhar no mesmo ritmo que os fogos. Até mesmo os saltos altos, platinados, não foram poupados pela ira; agora possuíam cor de carne, por causa do barro na rua, e estavam quebrados, fazendo com que a pobre Eufrásia - mais conhecia como Dercy, mancasse sem harmonia. Era humilhante. Pois, mesmo prostituta, teimava em possuir sua dignidade de mulher. Absurda, um quadro desbotado.
Seguindo pela calçada não lhe faltavam buzinadas, olhares, reclamações e elogios. Mas o que desejava era que um ser humano se indignasse a encarar seus olhos verdes e ser gentil - e que de preferência fosse homem (ainda conseguia ser vaidosa). Apenas palavrões e perguntas de quanto a "delícia" cobra pelo serviço.
A lembrança mais forte naquela noite seria para ela, então , a iminência de uma nova surra, pois ao aniquilar-se na esquina da Rua XV não obedeceu aos chamados dos homens que ali se encontravam. Sua sorte foi o quase estagnado chute no saco de um, saindo correndo e caindo mais a frente, sem que os dois quisessem segui-la.
O único homem a ser-lhe gentil mesmo, naquela última noite, foi enfim, o cachorro da vizinhança, mais conhecido como Baleia, que abanou seu rabo com tamanha felicidade que o olho que restou lembrava o velho diamante que Dercy herdou da avó e agora encontrava a posse, também, de Nestor, fazendo a chorar e encolher no canto da rua, imunda. Ao menos o cão gostava de sua presença, uma vez que deitou-se a ela, e não saiu do seu lado, mesmo com o estrondoso "Feliz Ano Novo" que se brigava com os fogos de artifício.

Ao amanhecer seus braços, pernas e rosto doíam, e Baleia lambia-lhe as coxas de maneira esquisita. Só conseguiu pensar "os homens são todos iguais, mesmo os cães..." - só querem bulir com ela."

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Nota apertada

Estreiteza: mil frases nas pontas dos dedos, mil palavras à esperar pronúncia.
O que consigo é silêncio.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

E a angústia... o verdadeiro alimento da alma

E fumava o cigarro tranqüilamente, não pensava, sentia. Com se sente a dor de estar vivo, a vida partida ao meio; o reflexo no espelho, apesar de mudo, lhe fazia a mesma indagação: o que aconteceu? Talvez só o tempo que voltou, aos tempos de angústia discriminada e insensata. A grande alegria da manhã não lhe bastava, egoísta que era... talvez apenas desejasse novos horizontes... como o peregrino perdido no meio do deserto, talvez desejasse não desejar um rumo. A vida sem existência; não compreender é uma sorte, mais quem realmente compreende?
O espelho, apesar de inerte, também abriga a vida, e os outros através dele, conseguem descobrir o seu âmago, olhando ao fundo do seus olhos – os olhos do espelho, que mesmo mudos, falam em alto e bom som... mas é como se sussurrassem: acorde do sonho da vida. Naquele espectro de irrealidade que somente ele carrega, mais que ela, naquele momento, conseguia pressentir e sentia que poderia carregá-lo para o resto da vida. A mesma sensação, em horas obscuras: o que aconteceu?

Ou então, o que mudou? Que não poderia mais continuar, nem o mesmo caminho, nem ser a mesma pessoa, muito menos sentir as mesmas sensações com as mesmas pessoas. Só a sensação do cigarro lhe era familiar. Entretanto, nada familiar, porque nem a sua família lhe era familiar, menos o cachorro, tão íntimo do espelho, que descobria o âmago dela, através dele... sem que ela desconfiasse.
Perplexa de si, querendo esmagar-se, ou esmagar a angústia, a indagação, o vício pelo cigarro... o que aconteceu??

Muda de si.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sai desse sufoco rapaz...
Até parece que tem o corpo oco, fazendo de si uma cidade.
Como que de valente fez da própria trajetória uma história,
Sem se importar se havia afinal alguma vitória.
Porque nem a existência possui finalidade!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Coração capital

No cais o cálculo da cabana.
(Cigana!!)
O corpo com carícia,
(Malícia...)
cabelos, curvas... à cabeça, a cachaça.
(que logo rechaça,)
Como se cordialmente conceituasse: contorno.
(pensando retorno,)
Compondo o canto, ao capítulo do conto.
(PONTO!)
Como se a calamidade caiasse a calmaria, culminando cà no calabouço.
(Por isso eu ouço...)
Coração.
(Pede perdão)
Caótico. Caos, confusão.
(logo de antemão!!!!)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Nota Triste n. 2

O que requer mais coragem: viver ou morrer?
Porque não só desejar a morte, aos 10 anos de idade, mas recorrer efetivamente à ela não é normal.

ps: porém, me recordo, dentre meus 6-8 anos, em certos momentos já desejava a morte.

Nota Triste n. 1

O cotidiano comprime: nos enchemos de direitos e nem sequer conseguimos vivênciá-los plenamente.