segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Tesouro sujo, cor mostarda.

Nunca fui de escrever sobre objetos. O que sempre me impulsionou, sempre me fascinou é a figura humana, em todas as suas nuances, sabores e sentimentos. Mas sinto a necessidade de por em palavras aquela casa.
Uma casa simples, metade madeira, metade alvenaria, arquitetura provavelmente do início do século passado. Mas simples.
Amarela mostarda, suja, como se estivesse esquecida.
Com certeza, despercebida, humilde.
Sua presença nunca antes notada, quase desfalecida, abandonada, como pude nunca antes tê-la notado? A presença tímida foi ganhando forma, espaço, ideia, até explodir em absoluto. Preciso conhecê-la, seus meandros, seus quartos, suas falhas.
Como pode um objeto possuir tanta atração? O que existe nesta casa que me impulsiona, que me paralisa, que me domina por completo? Ela exige-me que eu a olhe, que eu a pense, que eu a sinta, que se torne palavra falada e escrita. E em cada palavra, há outra, submersa, dizendo-me, estás maluca, estás obcecada por uma velha e imunda casa. 
Parece ser um grito abafado antes da morte,  prestes a ser demolida, prestes a ser sucumbida em suas próprias memórias. Posso acordar amanhã e ela não estará lá, como para mim, não estava antes, tudo será igual. Mas sua ideia permanecerá, sentirei sua nostalgia e sua falta. E, eu nem a conheço. Eu nem a entendo, não vi a fundo suas formas suntuosas e retas.
Desespero em não poder vê-la de perto. Quase como se meu destino estivesse atrelado ao dela, como se lá houvesse o tesouro de minha vida. Reto, ambíguo. Secreto. Inacessível. 
Sua presença será para sempre O Quase. 

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