quinta-feira, 12 de abril de 2012

Nota atônita

Hipocrisia, eu quero uma pra viver! Ou será que já possuo alguma e, é justo aquilo que me importuna?

terça-feira, 3 de abril de 2012

Enquanto isso, no escritório...

– Desculpe, o que você quer é um mero detalhe, você é uma peça na engrenagem, só isso, para o mundo você não vale. Você é... substituível, por isso, trabalhe, trabalhe, trabalhe...!

– Você não entendeu Senhor, eu sou um artista!

(Silêncio)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Que se passe aquele dia de felicidades falíveis

E que o fogo suspenda as dores em um trago, nas notas desesperadas de um sussurro perdido. E que o vento suspenda o tempo em um raio de sol. Que se saiba reconhecer a fragilidade dos que erram e a soberba dos que aprendem rápido, afinal o único erro é deixar passar. E que saibamos agir como se a felicidade não fosse um ideal, não fosse inatingível, não fosse necessária. Que um dia respondamos afinal, porque precisamos ser felizes? E, quem sabe possamos responder: uma má adaptação da espécime ridicularizada pelos séculos, pois não reconhecemos que a tristeza é muito mais necessária, porém traiçoeira.

Que os presos se libertem, e os libertos seja finalmente presos.

Que a roda mostre que sonhar não é tudo, mas que manter os pés no chão, não é nada.

Para que a vida morra, para que tempo regrida, e o filho pródigo vá embora, com todas as honrarias invertidas. Porque tocar no obscuro da vida é muito mais necessário do que se manter no lado da luz. Porque afinal o poeta e o cão não se distinguem, e o matemático não nos serve pra muita coisa.

As dores sempre serão doídas da pior maneira, as lembranças se esmorecem em goles, a cada dia, nos restando a essência de nós, em nossos olhos! Mas o que nós somos? Se ao nascermos somos um papel em branco, nossa essência é o nada. E que isto aqui não é mais nada que o nada.

E principalmente, que as luzes se apaguem na matéria. Que os que gritam silenciosos sejam finalmente ouvidos, que as preces se calem!!! E que a agitação não seja mais a Lei.

Tudo desaparecerá nas memórias, nos corações e no decorrer dos tempos, incluindo-se o tempo.

E que nos negar estas assertivas nos conduz em círculos inexistentes. E que afirmá-las aos quatro mundos não muda o NADA!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Ausência, vazio... morte (qualquer nome na falta de um...)

O que fica sempre é vazio, como se nada, nunca, tivesse sido preenchido. Um buraco, um rombo, um roubo de alma, um desgaste de... de quê? Não há nada para ser preenchido. Não adianta embebedar-nos... estamos presos em uma realidade desgastante. Em uma falta de sentido irresistível, em uma solidão irreversível, sonhando com o vôo. Despedaçados, mas em pé, em uma teimosia infantil, determinados a luta infame. A dor permanece aguda e grave em todos os corações... Nós? Não existe nós, não existe o eu. E a angustia de não poder chorar, tão verdadeira, também não existe. Só o vazio, aquele buraco na parede, pétreo, aquele buraco de nós, vivo e insondável.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Clarificando...

Clarificar: do latim clarificare; tornar claro, límpido; esclarecer; elucidar.

Um tempo para clarificar ideias, emoções, situações... jogar fora o impuro e o ranço de outrora. Uma iluminação, nada divina, apenas pautada em uma racionalidade que lhe é opcional.

Foi assim que a sua forma feminina decidiu iniciar uma nova etapa, com certos objetivos ainda não traçados, mas muito bem definidos, pautados em renúncia e desapego, mas com fundos egoísticos bem... digamos, clarificados.
O verbo de ação seria morrer. Loucura? Certamente não, o louco é o medíocre, o que aceita o cotidiano e os ditames dessa contemporaneidade tão arraigada nos corações. E não se trata de uma sacralização, nem, em outros termos, uma banalização deste estado, por vezes patológico, que já muito ocorre. Mas sim voltar a bestialidade bruta, selvagem, a fim de se chegar a um (em termos) livre conhecimento de si e do mundo.

Seria um ano sem conversas, datas comemorativas, moradia, dinheiro, televisão. Um ano estando no mundo sem nada dele o possuir. Estando decidido o "disparo" foi dado. Um ano em que o mundo viveria em ela, e nenhum mísero detalhe necessitaria de sua existência, ou não.

Como seria o regresso? Doloroso? Difícil com certeza... porém, mais puro, ao menos na sua concepção.

Mas nunca imaginou que a primeira vivência dessa nova vida (ou subvida) seria assistir ao sofrimento daqueles que vivenciariam a sua partida e teriam que re-aranjar suas vidas sem ela. A dor da perda de si e a dor da perda do mundo lhe abateu.

E se você pudesse morrer, por um ano e voltar, você aceitaria o desafio??

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pessoal, só passando pra divulgar o meu novo blog :D
Pretendo usá-lo para postar os meus desenhos, segue aí: OlhoseVoz

domingo, 15 de janeiro de 2012

Tentando.

Um tiro. Um mísero tiro para acabar sentimentos. Mas a arma está longe, longe de quê?? Talvez de qualquer movimento. E ela está alí, sim, no armário, carregada com a última bala, sempre esperando o decisivo disparo. O disparo para a eternidade, para ser eternamente mais um sonho inacabado. Não é desespero, não é medo. É cansaço. E o 'cansaço fica na mesma' como adora lhe dizer Campos. E 'a mesma' corrói, como corroem a ingratidão e a velhice no Tempo.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Reveillon no submundo (?)

Só deu-se conta quando já estava na rua, com os fogos explodindo em seus olhos e ouvidos, apressadamente, antes da meia-noite. Nestor havia lhe roubado todo o seu miserável dinheiro, e a reivindicação lhe rendeu uma boa surra. Ingratidão. Enquanto ela lhe deixava rico ele aproveitou para roubar-lhe o soldi e a alma, bulindo seus seios com força. "Italiano cretino" - era o que pensava.
O fato era que sangrava, com a maquilagem borrada e os olhos roxos. Sua lingerie nova, toda rendada, agora encontrava-se rasgada, suas cicatrizes nas costas, de outras brigas, pareciam brilhar no mesmo ritmo que os fogos. Até mesmo os saltos altos, platinados, não foram poupados pela ira; agora possuíam cor de carne, por causa do barro na rua, e estavam quebrados, fazendo com que a pobre Eufrásia - mais conhecia como Dercy, mancasse sem harmonia. Era humilhante. Pois, mesmo prostituta, teimava em possuir sua dignidade de mulher. Absurda, um quadro desbotado.
Seguindo pela calçada não lhe faltavam buzinadas, olhares, reclamações e elogios. Mas o que desejava era que um ser humano se indignasse a encarar seus olhos verdes e ser gentil - e que de preferência fosse homem (ainda conseguia ser vaidosa). Apenas palavrões e perguntas de quanto a "delícia" cobra pelo serviço.
A lembrança mais forte naquela noite seria para ela, então , a iminência de uma nova surra, pois ao aniquilar-se na esquina da Rua XV não obedeceu aos chamados dos homens que ali se encontravam. Sua sorte foi o quase estagnado chute no saco de um, saindo correndo e caindo mais a frente, sem que os dois quisessem segui-la.
O único homem a ser-lhe gentil mesmo, naquela última noite, foi enfim, o cachorro da vizinhança, mais conhecido como Baleia, que abanou seu rabo com tamanha felicidade que o olho que restou lembrava o velho diamante que Dercy herdou da avó e agora encontrava a posse, também, de Nestor, fazendo a chorar e encolher no canto da rua, imunda. Ao menos o cão gostava de sua presença, uma vez que deitou-se a ela, e não saiu do seu lado, mesmo com o estrondoso "Feliz Ano Novo" que se brigava com os fogos de artifício.

Ao amanhecer seus braços, pernas e rosto doíam, e Baleia lambia-lhe as coxas de maneira esquisita. Só conseguiu pensar "os homens são todos iguais, mesmo os cães..." - só querem bulir com ela."