quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

18 horas

Em uma cidade tão grande quanto São Paulo, essa é uma hora interessante, pessoas apresadas, carros e mais carros, bares e mais bares. A correria típica de cidades assim, é o tempo inflamando vidas. Nada mais nítido do que a pressa, para olhos apressados, claro. Basta ir mais fundo, na ferida da cidade, para se acharem coisas inimagináveis.
Hoje, á essas horas... eu estava na rua, sendo mais um, procurando um bar para retirar do corpo o cheiro de estresse. Virar cheiro de happy hour, de conversa jogada fora, de boas amizades. E foi bem nessa hora, antes de concluir finalmente a longa caminhada (até o bar) que meus ouvidos por um instante se atinaram para uma voz imperceptível. Uma voz que lutava contra o barulho de construções, de buzinas, carros, conversas, passos... lutava até com o barulho dos meus pensamentos vazios.
Era suave e infantil, achei-a no corpo de uma menininha de rua. Mendicância: tão pequena, tão bonita... para aquela vida. Mendicância. Dava uma pausa do trabalho e conversava com uma sombra já mais adulta e esperta, e a voz olhava a sombra como se ela fosse o irmão mais velho. Porém, às 18 horas, numa cidade como São Paulo, não se deve desperdiçar um segundo sequer... recriminada a menina de uns 8 anos foi para a rua.
O trabalho cansativo nos faz cegos... como ninguém pode tê-la notado? Alguns trocados sim, de pessoas passando na rua, de carros parados no sinaleiro, mas ninguém prestou atenção. Ninguém quis ver, ou foi o medo de assalto? Simplesmente pressa. E então hora estremi, chegará um dia em que essa menina reluzirá em um lindo corpo de mulher, mas mesmo assim vai continuar não sendo notada.
E ela não parece ser muito esperta, tropeça entre os carros, perde o tempo do sinaleiro... motos parecem assustá-la. Ela, no meio da Avenida, a chance curta, de uma vida curta: brilhar! Brilhou na luz verde, e aí, todos a notaram – pobre menina! – exclamou uma senhora ao meu lado. A morte nos faz santos e estrelas por alguns minutos, antes marginal, agora... poderia ser sua filha. Poderia ser minha filha! – completou a mesma senhora. Sangue.
Sairá nos jornais, a indignação será geral, o motorista fugiu, deveria estar bêbado, onde nós vamos parar? Lugar de criança não é na rua, e todo aquele discurso acomodado daqueles que só a notaram agora, assim como tantos outros que brilharam apenas na hora da morte. Virar mais uma estatística das cidades grandes.... viver no esquecimento, mas quem se importa? Quem realmente, se importa?

2 comentários:

Lerichsen disse...

O que importa?

LoLo Dantas disse...

A hora da estela, chega para todo mundo.

* Uau! o sumido Lucas reaparece das Trevas!