Longa noite, frio e chuva. Desconhecidos em um bar. Clichê. Nada há de novo, a não ser os seus olhos. Não eram de um novo clichê azulado como o céu, nem verdes como florestas profundas. Eram castanhos e enormes. Ordinariamente castanhos. E me fitavam no meio escuro, com um brilho que jamais encontrei em outros olhos. Eram dois dantescos abismos que me comiam viva e no fundo dois quais era possível descobrir chamas que mais tarde acenderiam meu corpo para nunca mais apagar. Brilho do nascimento de estrelas. Sou inteira brasa, que queima como se no inferno estivesse, como um incenso que exala seu cheiro. Me apaixonei no instante em que vi estes olhos, c'orgulho não reconheci. Tarde pude perceber que amor assim não deve minguar de desperdício. Jogamos fora o amor é nos jogarmos juntos. E foi o que eu fiz, não foi?
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
sábado, 15 de outubro de 2016
terça-feira, 13 de setembro de 2016
Retrato de ônibus, para uma desconhecida
(esboço na correria: pra não esquecer)
Distraída,
percebi primeiro suas olheiras.
percebi primeiro suas olheiras.
Percebi
no seu rosto as olheiras
de quem só tem tempo pra pressa,
e insiste na demora da prosa,
ansiando o ócio da poesia.
Vejo os olhos fatigados de dores do mundo,
e a falta de tempo para os rituais de beleza
dão lugar àquela mais singela e intensa estética,
com uma tristeza,
quem sabe,
de se saber mulher,
disfarçada no sorriso esboçado
ao perceber a presença da observância.
Mulher,
quem sabe ainda menina,
quem sabe ainda ferina e doce.
Quem sabe, ainda, cansou dos amores,
ou dos horrores do mundo,
ou talvez seja cansaço de luta,
de quem não arreda o pé
quando ouve que mulher não pode,
quando vê que igualdade
é mais privilégio que querer universal.
de quem só tem tempo pra pressa,
e insiste na demora da prosa,
ansiando o ócio da poesia.
Vejo os olhos fatigados de dores do mundo,
e a falta de tempo para os rituais de beleza
dão lugar àquela mais singela e intensa estética,
com uma tristeza,
quem sabe,
de se saber mulher,
disfarçada no sorriso esboçado
ao perceber a presença da observância.
Mulher,
quem sabe ainda menina,
quem sabe ainda ferina e doce.
Quem sabe, ainda, cansou dos amores,
ou dos horrores do mundo,
ou talvez seja cansaço de luta,
de quem não arreda o pé
quando ouve que mulher não pode,
quando vê que igualdade
é mais privilégio que querer universal.
Ou, essas suas olheiras,
a ressaltar os olhos esverdeados
escondidos por trás dos óculos,
sejam apenas falta de sono,
ou insônia,
de uma outra luta,
aquela de quem insiste em sobreviver,
de quem trabalha mais de 10 horas,
das mães
que criam seus filhos sozinhas.
Nos traços delicados,
que vão aos poucos se moldando
pela idade que chega,
aos poucos, de mansinho,
junto com os parcos
cabelos brancos,
vejo a menina-moleca descalça,
vejo tantas outras mulheres,
vejo a senhora que chegará.
Nós, mulheres,
talvez sejamos realmente desdobráveis,
e não gauche como o poeta,
já que somos muitas e de muitas formas.
Neste rosto, único,
e tão meu,
cheio de pressa e de afazeres,
cheio ainda
de desejos de vida
e de morte,
eu,
com tantos quereres,
que insisto na demora da prosa
e sonho em poesia
– mesmo no desencanto do mundo –
só espero
que nunca se instale a sombra da desesperança,
do cansaço inóculo,
de quem desistiu do mundo.
Sua beleza descomunal,
alinhada aos cachos
derramados pelos ombros,
desordenados,
desordeiros,
apelando
para uma liberdade,
talvez
saudosista de outrora,
desmoronaria.
O que nos faz lindas,
o que te faz irremediavelmente linda,
não é o padrão estético
de um nariz saído do universo rosa e obscuro da disney,
nem daqueles olhos arredondados e gigantes,
amados neuroticamente
pelos japoneses,
muito menos as bocas Jolie's.
Não!
Sempre é,
aquilo que pulsa dentro e mais forte,
o que vejo que desenhas
ao distrair-se com com carros além,
é isso que ainda te faz sorrir para uma estranha,
quando poderias
ter medo,
é o que te faz carregar Manuel de Barros
embaixo do braço,
escondido de outros olhos invejosos,
é esse “quê” além de beleza.
Acho enfim,
que talvez sejam,
justamente,
suas olheiras.
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
Poema-Pássaro II
Se um pássaro pudesse saber
de todas as dores
que inventam, os homens, pra si.
Toda a delicadeza de suas penas
seria manchada de um turvo véu:
não poderia voar,
pesado de dores.
- É por isso que o homem não voa.
Se um homem
fosse pássaro,
quereria ser águia-gavião.
Mas de fato, seria Ícaro-galo ensimesmado
olhando de cima, como se a crista que leva
fosse coroa divina.
Caindo ao chão,
depois de voar cinco metros,
com o pescoço quebrado
morto, correria mais cinquenta.
- É por isso que é também dor,
o orgulho que pesa.
de todas as dores
que inventam, os homens, pra si.
Toda a delicadeza de suas penas
seria manchada de um turvo véu:
não poderia voar,
pesado de dores.
- É por isso que o homem não voa.
Se um homem
fosse pássaro,
quereria ser águia-gavião.
Mas de fato, seria Ícaro-galo ensimesmado
olhando de cima, como se a crista que leva
fosse coroa divina.
Caindo ao chão,
depois de voar cinco metros,
com o pescoço quebrado
morto, correria mais cinquenta.
- É por isso que é também dor,
o orgulho que pesa.
domingo, 14 de agosto de 2016
sexta-feira, 5 de agosto de 2016
terça-feira, 2 de agosto de 2016
Poema ao melhor amigo do homem
Se o tempo é invenção de bicho-homem
decreto desde ontem
e de anteontem
e de mais anteontens ainda,
a prescrição do calendário,
e seja ele a sombra dissidente
da sua presença,
meu caro amigo, lendário.
Que agosto nunca chegue,
julho nunca termine
e o tempo suspenso
seja apenas rima,
brinquedo velho
nas mãos de uma menina.
(ou ainda na boca,
na sua boca, cheia de dentes afiados,
como uma doce paparoca).
Para que esses dias de dor
sejam expurgos da vida,
para que,
ano que vem, ainda mais
não seja a despedida que se lembre,
e sim a sua selvageria,
a sua bagunça,
a de todos os animais.
decreto desde ontem
e de anteontem
e de mais anteontens ainda,
a prescrição do calendário,
e seja ele a sombra dissidente
da sua presença,
meu caro amigo, lendário.
Que agosto nunca chegue,
julho nunca termine
e o tempo suspenso
seja apenas rima,
brinquedo velho
nas mãos de uma menina.
(ou ainda na boca,
na sua boca, cheia de dentes afiados,
como uma doce paparoca).
Para que esses dias de dor
sejam expurgos da vida,
para que,
ano que vem, ainda mais
não seja a despedida que se lembre,
e sim a sua selvageria,
a sua bagunça,
a de todos os animais.
terça-feira, 19 de julho de 2016
Poema-Pássaro
Gosto do som das asas dos pombos
Sim ,eu sei - são os pássaros mais ruidosos,
mais desprezíveis,
mais que galinhas...
Mas,
com eles,
a experiência do voo
é mais verossímil.
Com as pombas,
tenho imagem,
vejo a dinâmica e,
tenho a sensação do som.
Sentir é sempre mais verdade que ver.
Com os pombos
sinto o voar,
sinto o vento que perpassa penas,
e o vento é toda uma arte de sentir.
Pombos e também sabiás,
e também rouxinóis, beija-flores,
corvos e bem-te-vis,
o diriam se pudessem.
E se pudesse, falar, falariam:
pobre homem,
ter linguagem e não ter voo.
Está preso na própria palavra!
...foi com ela
que inventou a liberdade.
Sim ,eu sei - são os pássaros mais ruidosos,
mais desprezíveis,
mais que galinhas...
Mas,
com eles,
a experiência do voo
é mais verossímil.
Com as pombas,
tenho imagem,
vejo a dinâmica e,
tenho a sensação do som.
Sentir é sempre mais verdade que ver.
Com os pombos
sinto o voar,
sinto o vento que perpassa penas,
e o vento é toda uma arte de sentir.
Pombos e também sabiás,
e também rouxinóis, beija-flores,
corvos e bem-te-vis,
o diriam se pudessem.
E se pudesse, falar, falariam:
pobre homem,
ter linguagem e não ter voo.
Está preso na própria palavra!
...foi com ela
que inventou a liberdade.
Assinar:
Postagens (Atom)