sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Recorte...

E o coração calmo, despalpitante. Estado de serenidade profunda, combinada com o vento, que neste instante quase inexiste, uma surpresa para cidade, no qual o vento é forte. Os cabelos soltos, não balançam e os gestos apenas fluem com o ritmo das águas gélidas do rio.
Auto-instrução nas profundezas, transparência escura no corpo nu. A pele sempre branca e estremecida, ao alcance de uma pedra, pára. Um homem a viu. Qualquer um desconfiaria das roupas surradas, do cabelo emaranhado e da voz vil; mesmo assim, até o vento insiste em não se alarmar, em não gritar, pedir socorro.
Os pés do homem agitam as águas, ele nem tira as próprias roupas, como se molhá-las fosse o menos insignificante em uma situação, para outros olhos, instigante. Martírio do homem ao lutar contra ás águas e não chegar ao alcance da moça. Poderia estar mais quente, a vida menos turva aos seus olhos, sua boca menos seca e seu corpo mais úmido.
Finalmente, após longa luta, segura seu braço, impede o fluxo, e o coração? Continua calmo. Trazê-la para a terra, aos cuidados de não sujar-lhe o corpo. Finalmente um grito cortante, o susto, juntamente: o esmalte vermelho e o rosto juvenil:
- Socorro!!!
____________________________________________________


Manchete: morador de rua encontra corpo de jovem desaparecida a três meses.
A jovem, de 15 anos, desapareceu em março, quando ia para a escola, tudo indica que seu ex-namorado, de 18 anos a seqüestrou. Segundo os policias o corpo apresentava sinais de violência sexual e foi jogado no Rio Itabiruno horas antes de o morador de rua, o senhor Ignaldo, encontrá-lo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Reflexões baratas de uma manhã de quinta!

Talvez o homem tenha tomado pra si o "pra sempre", e como resultado, dominado tanto o Planeta, com suas invenções e guerras e civilizações, por não aguentar o peso de sua ínfima existência. Sendo sozinho, não causa minímas cócegas ao Universo.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Des'de tarde, no pôr-do-sol, a concepção iluminada. Que é cheia de vida, beleza, ou quem sabe, qualquer sentimento humano, que desemboque em saudade ou dor: um poema, um romance, ou simples desabafo a dar pontadas na cabeça do escritor.
Toda idéia é inspiração e pertinência. E o escritor já exausto na noite não pode dormir. O peito estala e a idéia na cabeça gira - e até os dedos se preparam para o exercício. É todo ânsia.
Então freneticamente a caneta desliza pelo papel até esgotar o pensamento, ou o sentimento? é um delírio literário, o abstrato em prosa ou verso.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Preocupação

sabe... a minha;
preocupa-me deveras...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Poema da Entrega

Entrego-me inteiriça sobre tuas mãos,
como um cordeiro entregue a seus deus
em sacrifício;
porque de mim, nada serei sem ti.

É melhor ser morte e imolação
do que secar incólume,
junto as folhas, no triste outono.

Saberei escorrei meu sangue em seu corpo
para que o ciclo não se quebre, e
com o fim desta vida terrena
possa renascer o nosso amor.

E, enfim, quando chorares minha perda, esganecido,
veja como na morte a vida se completa e surge,
num eterno retorno de águas.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Inconsistente-me.

Ouvir a vida ao som do seu coração, tão certo, tão ritmado, tão livre nas suas prisioneiras batidas.

Quem sabe, poder tocá-los com minhas próprias mãos desencarecidas, sentir o pulsar de sua carne em meio as minhas unhas: coração e vida, para talvez sentir-me mente e lucidez, para talvez recuperar o brio, que ébria de morte, já perdi.

Recuperar meu próprio sangue em tua carne! Remexer as entranhas para supor alma enquanto mortal. Para enfim, supor a vida, alguma vida, qualquer vida... que reste neste miocárdio que tão lentamente insiste em aniquilar-se.

Quero escalar e escaldar a sua pele, descobrir cada filete de carnes, nervos e memórias. Quero reinventar o conceito dos teus orgãos, achar uma nova razão de ser para seus intestinos: alimentar-me jamais; e nova também para teus membros, embebedar-vos de prazer ligeiro e comovente, como a doce primavera da infância que nunca retornará, esquecendo-me, como sensação, inteira. E para teus miolos, ao invés de guardar, que sejam apenas vibrações para a completa distração e lapso.

Queria ouvir-te o que é terreno, sublime e breve, como um corpo que apodrece para o esquecimento.

domingo, 10 de abril de 2011

Sobre cantigas de escárnio e de maldizer de la modernité...

Vivendo nos interstícios é que a mosca do escárnio se acopla, não é nem animal, nem objeto. Nunca esta a posse. É posse. Suga-lhe as diretrizes auriculares da vida. Em sem perceber o sujeito renega-se a própria vida, em causa do maldizer alheio.

- Tira essa película cinza escárnio dos teus olhos. As teias que prendem são lançadas por ti mesmo. Zombaria-se dos outros, pobre lúdico; seu desejo é sua própria maldição. Pútrido!

sábado, 5 de março de 2011

Enquanto vocês dormem

Se vocês soubessem como esta noite está diferente. São três horas da madrugada, estou com uma de minhas insônias. Tomei uma xícara de café, já que não ia dormir mesmo. Botei açucar demais, e o café ficou horrível. Ouço o barulho das ondas do mar se quebrando na praia. Esta noite está diferente porque, enquanto vocês dormem, estou conversando com vocês. Interrompo, vou até o terraço, olho a rua e a nesga da praia e o mar. Está escuro. Tão escuro. Penso em pessoas de quem gosto: estão todas dormindo ou se divertindo. É possível que algumas estejam tomando uísque. Meu café então se transforma em mais adocicado ainda, em mais impossível ainda. E a escuridão se torna tão maior. Estou caindo numa tristeza sem dor. Não é mau. Faz parte. Amanhã provavelmente terei alguma alegria, também sem grandes êxtases, só alegria, e isso também não é mau. É, mas não estou gostando muito deste pacto com a mediocridade de viver.

Clarice Lispector - 18 de maio de 1969