Como pode o dia começar se nem mesmo amanheceu? Do escuro foi para o nublado, e da luz do sol, nem sequer um raio eu vi. E as pessoas andam apressadas com seus guarda-chuvas, mas onde está a chuva? Será a miopia que não me permite vê-la, ou ela anda escondendo-se de mim, aparecendo, apenas, no chão molhado e no meu cabelo e roupas umedecidos?
Em verdade, chego à conclusão: o dia, Hemera, resolveu pregar-me uma peça, absteve-se, paralisando a obra de Chronos às seis horas da manhã de um dia de inverno, menos frio do que úmido.
Porquê? Seriam motivo as minhas brigas diárias com este deus, não raras vezes, devastador?
Por fim, declaro, que o dia então comece, não mais pretendo atirar-me à uma luta fadada à perda. Não pretendo mais brigar com deuses, agora, apenas almejo a tranquilidade que me abre a porta.
Assim, bastou-me piscar os olhos, e o relógio já me acusa às dezoito horas. Aqui, o tempo volta a voar, lentamente. Os carros passam, a chuva é vista e o céu escurece novamente. Agradeço enfim, por passar pela vida e percebê-la de coração aberto, uma vez que, nem mesmo a falta de sol, será capaz de turvá-lo, e o seu, anda nublado?