Queria
ser no instante de agora o instante nada, ser a liberdade pura, que é
a mesma coisa. Desejo enfim, ser solidão. Não queria sair deste
quarto repugnante e pungente. Não queria jantar, o contato com a
comida é sair da solidão, é estar preso ao próprio instinto
animal. Queria menos ainda contatos humanos, banais, medíocres ou
sibilantes. Aguentar a mim mesma é mesmo difícil nessas horas, os
outros, são, na mesma medida os outros, os corpos estranhos e
inatingíveis que me dão medo na mesma proporção que dão à
tímida infante. Eu não aguento os outros.
Queria o
impossível, a negação da negação, que não, não é a síntese.
É o nada. Queria estar morta, mas não morrer, não o suicidar-se,
não o homicídio, apenas estar morta, a sete palmos do chão que
todos nós pisamos, nos tempos de hoje, raramente descalços.
Queria
portanto o Impossível.
Queria
telefonar-te e dizer: vem. Mas não seria você quem estaria aqui. E
não seria eu. No instante de agora eu não sou eu, nem tu, nem nós,
eu sou o vácuo sem ser o nada. Queria escutar-te a ligeira
Petulância, o quase sempre descarado supérfluo Superficial, e a
irresistível e irritante Sensualidade que exala da sua respiração.
Que eu nem sei mais como é. Eu não sei quem você é, nessa
abstração onde só cabe idealismo. O amor é um ideal, que no
instante de agora renego e desejo, desesperadamente. Como a falena
que sai ao encontro da lâmpada, para morrer no mesmo instante que
atinge seu objetivo.
Eu sou a
falena que morre todos os dias, pois corre e encontra a luz todas as
noites. Mas eu não renasço das cinzas. Sou apenas pó.