Pequena alegria do dia: ouvir o som dos pássaros ao amanhecer, bem-ti-vis, sabiás, joões-de-barro, saís-azuis, e até os pardaizinhos...
Pequena tristeza do dia: ver um idoso tentar atravessar a rua movimentada, enquanto pede para que o ônibus o espere, em vão...
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
O Sufocante Milagre do Esquecimento
Uma das piores sensações do mundo: a do pós-piloto automático. Quando você se dá conta que fez uma porção de coisas, das quais não há o mínimo registro em sua memória. Nada é mais angustiante que o esquecimento.
O piloto automático é o escape para uma rotina saturada de memórias inúteis. É como se parte do meu cérebro tivesse sido sugado por um buraco negro, lá para a zona fantasma do esquecimento. Como se o meu passado fosse um corpo, e lhe faltasse o braço inteiro.
Que foi que eu fiz, José?
Da ultima vez, era dia de viagem, acordei. Cinco horas da manhã. Terminei de arrumar as malas, a cama, troquei a roupa, pus as malas no carro, afaguei o cachorro, me despedi de meu pai, entrei no ônibus e dormi.
Acordei ás oito horas.
E, minha memória se restringe ao despertar e arrumar a cama. Nada há de arquivado das cinco e dez às oito horas!!! E o pior, só a noite, quando cheguei no meu real destino (depois de dois ônibus, um avião e três Estados) é que me dei conta.
Desespero total.
Terei, eu, deixado de fazer algo importante?
O afago no cão foi o suficiente para ganhar da sua insatisfação pela minha partida? Fui amável o suficiente com meu velho, que almoçará e jantará sozinho, sem conversas?
Detalhes pequenos, mas que não indícios de algo maior. Um dia poderei esquecer as chaves, o rosto de meu pai, o cheiro de meu amor...?
Tudo bem, Pope, você tem certa razão, o ato de esquecer tem seu certo brilho, mas não eterno. Cada memória acumulada pode abrir uma ferida no peito O dia em que se foi humilhado, a primeira traição, a morte dos avós e depois dos pais - ou pior, dos filhos. A saudade dos amigos que moram longe, dos sabores da infância... Aquela memória de quando perdemos a inocência de uma vez por todas.
Mas o que seria de nós no completo esquecimento?
Felizes dos que lembram e, choram.
segunda-feira, 1 de julho de 2013
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Quando uma simples notícia é capaz de dar fluidez a toda uma correnteza que jazia em duvidosa paz. Despertar de um sono apático para o renascimento doloroso do coração. Ainda frágil. Florescem ideias e sentimentos que os olhos tornam palavras, e as mãos lágrimas.
Não é um rio, é um mar inteiro, silencioso.
Foi este o resultado da volta da minha memória.
Agora eu sei, nosso cordão umbilical nunca será cortado...
Agora eu sei, nosso cordão umbilical nunca será cortado...
sexta-feira, 31 de maio de 2013
A Verdade do Homem
'A vida adora me dar chutes no estomago', pensou, quando sentado em frente ao espelho.
Mas não seria ele quem cria essa realidade assim como o espelho cria a sua imagem? Imagem dotada de verossimilhança, à medida que o próprio homem a ser refletido se reconhece. Não é a realidade.
É um mundo completamente igual, aos olhos do expectador, mas reserva a sua diferença à medida que a imagem não emite sons e transparece emoções mudas, sem perspectiva, tal qual um fantoche.
'Somos nossas próprias marionetes!', disse em voz alta, depois de minutos de introspecção. E o homem a sua frente apenas mexeu os lábios.
Suas rugas seriam exatamente as rugas que ele vê, seus olhos realmente seriam caídos, dando a noção de cansaço que sempre encontrou em si? Só se reconhece a medida que o espelho reflete as características que ele julga possuir, e que outros, assim também o fazem.
'Aparência, outros nos julgam segundo o que podem entender de nós, e assim, também nos julgamos'. É como se a vida inteira fosse falsa. Como se todos nós fossemos uma falsidade inócua. É que existem paralelos: a vida que julgamos viver, de acordo com nossas aparência de mundo e si, e do outro lado, a vida. Vida real? A partir desta ideia, pressupõe-se que vários mundos existem, e a cada segundo o homem cria mais um, quando marioneteia-se diante de outros olhos e dos próprios.
Cansou da auto-contemplação, quebrou o espelho e resolveu, de imediato, pregar a falsidade do universo, como único dogma verdadeiro.
domingo, 19 de maio de 2013
segunda-feira, 29 de abril de 2013
quarta-feira, 27 de março de 2013
Caminho livremente pelas ruas. O sol de outono insiste em ser verão e queima. Há tanta claridade e eu gosto, procuro ouvir o som do mundo. Carros, buzinas, vendedores ambulantes, pássaros, musica sertaneja.
E eu passo por vários corpos e não há toque, apenas movimento, este que parece incansável e tão permeado de sincronismo. E eu não vejo os rostos... porque todos olham para baixo?
E o pobre diabo aqui, com o nariz empinado, 'mó' arrogante.
Parece medo de encarar a vida de frente.
Parece cansaço de encarar a vida de frente.
Parece que eu é que sou ingênuo e vejo beleza em qualquer lugar.
(21 de março de 2013)
(21 de março de 2013)
quinta-feira, 21 de março de 2013
Ser, o social.
O homem é um zoon politikon, é social, mas é animal; linha tênue que, às vezes, para não dizer sempre, é difícil de distinguir - na roda, quando todos estão, alto, a falar, o animal parece calar-se, observa, não sabe reagir. É que a natureza não tem palavra. À sós, cria um mundo inteiro: ideias, politicas, razões e números...
Ou será o oposto?
E de quê serve tudo isto, para no fim, desaparecer, com a morte?
Mas a arte é eterna, já dizem. Muito mais que a economia, a política, o capital ou o social, valor de uso, valor de troca. Valor. Na arte nos encontramos, sujos, sedentos, lascivos e belos. O outro não é só um alvo, um interesse, um número, é nós. Na arte, somos todos e apenas homens. Mas o que é o homem?
Mas o que é tudo isso? O que são todos esses signos?
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