domingo, 26 de julho de 2009
Impaciência
Acho que estou velho, mesmo com meus 20 e poucos anos... acho que estou cansado, mesmo tendo passado o dia em casa, sem fazer nada.
E nada muda...
Espero inutilmente o telefone tocar, a campainha tocar... mas não toca! Só escuto os infernais pingos da torneira do banheiro; o “tic-tac” do relógio que me lembra do tempo que não passa aqui. Mas quando vejo, foi-se meu dia, foi-se minha alma... Perdida entre humanos corrompidos e estúpidos.
Não sei mais, me sinto como um estranho longe de casa, sem amigos, sem namorada... não mereço essa solidão. Não mereço essa dor... Angústia, mágoa, incredulidade... e o mundo me mostrando que a bondade é lenda. Que o ódio-fogo apaga, mas é ele que queima e destrói.
E o ódio que destrói.
E a loucura vem me procurar nas horas escuras, e eu procuro uma estrela em vão. Procuro em vizinhos, colegas... em jornais, na televisão, no rádio. Eles... como o mundo, me lembram da menina atropelada em frente ao prédio, do casal que matou a senhora por 3 dólares, do político corrupto, da escola em recesso porque foi alvo de vândalos... da mata queimada, da água desesperada, da sede suja... da fome límpida!
Sou apenas um homem que vê um mendigo e chora, que vê um drogado e grita. Apenas um homem, que estende a mão e leva rasteira. Apenas um homem... Alguém que sente o cheiro do luxo e vomita.
E nessas pensamentos desnecessários continua a luta contra um mundo fadado ao fim, contra uma alma inquieta que se sente inútil, débil e incapaz... Mas mesmo assim, prefiro a solidão, o frio, a ter que aceitar o ódio, o comodismo, o interesse, a falta de alma dos homens. Se sou o único, sinto muito "meu deus', mas mande para o inferno essa Terra maldita...
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Brincando com tinta guache :)
Fernando Pessoa
Caminhando devagar e sempre a cada luar, a cada amanhecer... estremeço se paro, parar é perder-se e só quero seguir em frente...
Só quero deixar aquela carcaça do tempo perdido, do sonho não vivido... Não adianta lamentar, não adianta chorar. Só adianta viver. Só adianta mudança.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Julgamento
Para mim, certo é agir com o coração. É agir com a alma... mesmo que dizer que algo é certo seja uma idéia tão vaga... Concordam???
Foi o que pensei...
Matei um homem; e isso foi certo, agi com a alma, com a emoção, com o coração!
Todos diriam que é errado em qualquer das circunstâncias... que eu deveria ser preso, condenado, morrer em uma prisão. Mas foi certo! Matar foi certo.
Peguei uma faca e não hesitei ao cortar a garganta do maldito e até posso surpreendê-los dizendo o quão doce foi ver o sangue se esvair de um corpo inerte. Um corpo doce e repugnante que era aquele. Não fui monstro, não fui fera, não fui cruel... Fui homem!!
Um homem, não se acovarda, não foge e não se finge de morto para proteger a própria vida enquanto escuta o grito dos desesperados. E é por isso que o julgamento é tão prepotente, que os fatos são tão absurdos. O que é certo para mim, no caso é errado para vocês, mas posso dizer que o ridículo preconceito que sentem contra negros como eu é tão ou mais errado que matar uma pessoa.
Preconceito fere, humilha, deixa cicatrizes na alma e faz com que o ódio, rancor e desgraças se multipliquem. Matar não, como eu matei não! Matei e limpei o mundo de mais uma sujeira humana. Porém sujeira humana é a raça negra não é???
Não adianta virar o rosto e ignorar a realidade... vocês só por serem brancos já me olha com desdém, já pensam inconscientemente “tinha que ser preto”... Mas a verdade é aquilo que todos se esquecem para dormir tranquilos em suas camas. Foi um branco que destruiu minha família, foi um branco que pegou minha filha e mulher e as estuprou, foi um branco que as mutilou que as torturou dando risada e chamando-as de vagabundas por serem negras!! E isso, pelo amor dos céus, é errado!!
Matei, senti gosto em matar e faria de novo! Ao menos tenho eu a certeza que as vossas filhas e mulheres não passaram pelo mesmo horror... não pelas mesmas mãos brancas... Mas, senhores, se condenarem um reles “pé rapado” como eu, mais demônios como aquele verão que a justiça não existe, verão a chance de seguir em frente com o reinado de horror que tem se instalado em nossa sociedade!!
Minha família morreu... nunca mais terei felicidade, mas fiz justiça. É impossível ficar indiferente a uma situação dessas... Só peço que reflitam sobre suas mulheres, sobre seus filhos... sobre esse tesouro maravilhoso que é poder ter amor no próprio lar...
Sou negro, mas sou humano... e também sou errado, sim... E o homem que fez isso comigo? Era o quê?? Um pobre coitado pelo qual eu mereço ser condenado a morrer na prisão? Antes de matá-lo ele me matou da maneira mais podre que poderia existir...
quarta-feira, 24 de junho de 2009
sábado, 6 de junho de 2009
Tentação - Clarice Lispector
Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.Lá vinha ele trotando, à frente da sua dona, arrastando o seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.A menina abriu os olhos pasmados. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos.No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes do Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.Mas ambos eram comprometidos.Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.
domingo, 31 de maio de 2009
Real Amor Virtual!
é velho e eu não gosto.... odeio!
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Meu coração Sertão
te sentir pertinho de mim um segundo que fosse.
Pedir pra ficar comigo e ficar feliz...
No fim ver seu sorriso,
embutido em uma foto linda,
em uma noite,
em uma vida linda.
Queria que tudo passasse e de repente se fosse um ano,
junto com todos os medos, as incertezas, as dores e sofrimentos,
junto com o rancor e o desanimo,
junto com as más lembranças.
Que só restasse você, eu, e um amor inteiro,
com uma vida pela frente,
com uma alegria pela frente,
com uma fé pela frente.
Como uma florzinha que nasce no chão árido do sertão.
E que essa florzinha fosse assim em nosso coração,
como já foi um dia, como é e tem que ser...
quarta-feira, 27 de maio de 2009
continuação...
A um passo de tomar coragem para lagar tudo e seguir em frente me indago sobre Anne. Será que ainda me ama, que pensa em mim... que se importa comigo ou com algo referente a mim?? Não sei... não sei... Há seis meses que não nos falamos, ela não atendeu meus telefonemas, não retornou... Aos “encontros marcados” não compareceu. Deve ter me esquecido.
Deve estar com outro, deve estar feliz, como nunca foi comigo! Fiquei me perguntando se ela seria uma das pessoas que me segurariam para que eu não me perdesse... e durante muito tempo tive a certeza de que seria a única a fazer isso... Mas agora, nem ela se preocuparia com o meu sumiço.
Anne foi embora, entrou e saiu da minha vida como um raio. Entrou por um acaso, mas saiu porque sou um pobre infeliz que não dá valor ao que ama. Destruí meu amor... destruí meu mundo. Minha existência é a mais ignóbil de todas elas.
Mas porque esse amor dói tanto? Essa tristeza não passa? Só depois de tanto tempo consigo compreender o mal que fiz, consigo ver o que um pequeno deslize pode acarretar... Comecei maltratando os que eu julgava inferiores a mim, e minha arrogância cresceu de tal maneira que a transferi para ela. Não bastava humilhá-la com palavras... então a humilhei com gestos.
Não basta arrepender-se, não basta pedir desculpas, nem sofrer como um cão as conseqüências do meus atos. Nada a trará de volta e nada será como era... E eu só queria saber se ainda resta um pouquinho de amor no doce coração de Anne.
Saber que ainda há algum amor, mesmo que minúsculo, me daria um pouco de forças para ao menos seguir em frente. Meu destino curva as minhas costas, o vazio é tão grande. Eu queria ver no escuro do mundo uma solução que não há, um amor que se acabou, uma felicidade que nunca existiu... Queria ao menos saber se a fiz feliz...
(continua)